23 de setembro de 2017

o show tem que continuar

Para um coração que é um palco
Cada novo amor é um novo espetáculo
O teatro hoje está cheio
Mas a cochia entulhada de móveis e
Amores esquecidos

É como apresentar para uma plateia
Gigante e silenciosa
Ou uma solitária alma que se levanta
E aplaude sozinha
Se envergonhar de novo e de novo

(mais uma vez)

Monólogo impiedoso contra mim
Rasga a voz e corta com uma navalha
Se esvai a plateia aos poucos
Faltam alguns minutos para o fim
Desçam as cortinas e a mortalha

E clama alto, aos prantos e berros
Implora, suplica, chama e chora
A figura contra o holofote é clara
Mas indistinta forma de sombras
Com um passo sai da luz e adeus

(continua ali e me acena do escuro)

Uma mistura de tudo me invade o peito
Maquiagem, luz, figurino, script
Mais uma vez destruo com raiva o cenário
Picoto meus papéis e rasgo o figurino
Lavo a maquiagem com suor e lágrimas

O elenco já se foi e a autora fica só
Em pé no palco sob a luz observa assentos vazios
Autora que é atriz e figurinista e cenografista
E faz a música e a iluminação
Só não decide com quem contracena, ironia

Recomeçar é sempre difícil
Esquecer as falas da peça anterior
Para decorar as novas é fácil
Difícil é esquecer sem ter um novo roteiro
Pelo qual seguir

Me levanto e aplaudo solitária
Autora atriz plateia e crítica
As cortinas se fecham e as luzes se apagam
Os passos ecoam na amplidão vazia
O show tem que continuar

(mas o anterior tem que acabar)

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