23 de maio de 2017

letargia

Eu abro a conversa, leio e releio as mensagens mil vezes, penso em mais dezenas de respostas, mas a barrinha de digitar continua piscando. Pisca como se cobrasse de mim uma atitude. Mas eu não escrevo, a exaustão mental e emocional simplesmente barram essa capacidade.
Abro o caderno, o livro o slide, sento na cadeira e fico encarando as palavras. Espero que alguma faça sentido, ou que talvez eu seja o primeiro caso descrito de osmose informacional. Mas não, o cansaço pesa minhas pálpebras e desvia minha atenção.
O estresse é tamanho que te mantém numa condição de alerta o tempo todo, impede que você mantenha a atenção na mesma coisa por mais de 30 segundos. Qualquer coisa, por menor que seja, se torna um problema colossal, e você fica pensando nisso, rodando em círculos. Pensa tanto que não resolve nada. É como um abutre voando alto, em círculos, mas que nunca pousa. Não sei se sou o abutre ou a carcaça.
Se eu não te responder, por favor não me cobre. Eu quero responder, mas não consigo. Me desculpa, mas eu simplesmente não posso.
Se eu não conseguir resolver um problema fácil, não julgue. Eu te juro que pensei nele mais do que seria saudável pensar, mas ele me parece o fim do mundo.
Se eu esquecer alguma responsabilidade, tenha paciência, eu vou tentar melhorar.
Mas o estresse, a exaustão, o cansaço emocional, físico, mental, colocaram um pesado manto sobre minha cabeça, em uma tentavia débil de isolar um pouco mundo lá fora, que berra, que grita. Quem sabe amortece um pouco.

18 de maio de 2017

chuva e goteira

A vida vai bem, muito bem, obrigada
Quase consigo ignorar completamente
Aquela pequena nuvem preta
Que se esconde nos cantos da minha cabeça
Mas às vezes ameaça chover

Eu sou um copo sob uma torneira com goteiras
A ponto de vazar
A água pinga incessantemente, um barulho que me enlouquece
aos poucos
Mas ainda dá
pra deixar pra lá

Tempo difícil, ninguém está bem
estresse generalizado, olhos cansados
Cheiro de café no hálito
Mas eu vou bem, obrigada, só preciso olhar pra outro lado
A nuvem chega de lá
a torneira pinga de cá
eu não posso vazar

Amortecida, de pé, entorpecida
chove lá fora
e também aqui dentro
a nuvem não vai mais embora
a goteira pinga mais rápido
o copo cheio parece 
metade
vazio

encharcada, de chuva, de goteira
ainda tenho força
apenas
pra estender a mão gotejante
e fechar a torneira
dum outro errante